domingo, 29 de janeiro de 2012

E, se seguíssemos Levítico à risca?

Por Paulo Stekel

Por diversas vezes já recebi por email nos últimos anos uma determinada “carta” supostamente escrita por um anônimo como resposta a uma homofóbica apresentadora de rádio dos EUA. Fiquei curioso em saber a história deste texto que fala por si mesmo e dispensa maiores comentários.

Segundo contam os websites dos EUA, em seu programa de rádio, a Dra. Laura Schlessinger disse que, como um judia ortodoxa praticante, considerava a homossexualidade uma abominação, e que de acordo com o Livro de Levíticos 18:22, ela não pode ser perdoada em qualquer circunstância. A resposta abaixo seria uma carta aberta para a Dra. Laura, escrita por um cidadão dos EUA, que foi publicada na Internet inicialmente em 2000. É sarcástica e direta:

(Termos hebraicos originais usados em Levítico 18:22)

“Cara Dra. Laura

Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso.

Quando alguém tenta defender o homossexualismo [sic], por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levítico 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.

Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como segui-las:

a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levítico 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela ? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo?

f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levítico 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Eu não concordo. Você pode esclarecer esse ponto?

g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levítico 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco)

j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levítico 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levítico 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levítico 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levítico 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar.

Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.

Seu discípulo e fã ardoroso.

Anônimo”

A verdadeira origem da Carta

A primeira vez em que esta carta apareceu no mundo online foi em maio de 2000, logo após o estado norte-americano de Vermont ter permitido a casais homossexuais contraírem “uniões civis”, um reconhecimento oficial que estendia a parceiros do mesmo sexo benefícios legais do casamento, como direito de ser tratados pelos hospitais como parentes próximos e de alguém tomar decisões médicas em nome de seu parceiro. A decisão agradou alguns e irritou outros, resultando em muitas opiniões acaloradas sobre uniões do mesmo sexo em específico, e a homossexualidade em geral, em inúmeros fóruns públicos.

Graças a esta decisão muitas vezes foi ao ar a opinião de que os homossexuais são um “erro da natureza”. A Dra. Laura Schlessinger, apresentadora de rádio, se tornou um dos alvos dos simpatizantes pró-gay.

A Dra. Schlessinger tem atraído tanto adeptos fervorosos quanto detratores durante seus anos de vida pública. Através de seu programa de rádio, distribui conselhos para os ouvintes pelo telefone, geralmente a partir de um ponto de vista conservador. Ela era uma judia ortodoxa na época em que a carta citada foi escrita (mas anunciou sua renúncia a esta fé em seu show em julho de 2003) e, muitas vezes baseia-se nos ensinamentos bíblicos ou religiosos para orientação dos ouvintes. Ela é franca e sincera em suas respostas, vendo a maioria das situações como inerentemente pretas ou brancas, certas ou erradas.

Laura Schlessinger é uma médica credenciada em uma disciplina que tradicionalmente não tem um olhar para a geração de conhecimento em moral, questões sociais ou espirituais (como divindade, psicologia ou sociologia). Ela obteve seu doutorado em fisiologia pela Universidade de Columbia e trabalhou como conselheira licenciada para assuntos de casamento, família e infância por mais de uma década.

Alguns veem o uso de “Doutora” por Schlessinger como algo enganoso, considerando sua posição atual sobre a santidade do matrimônio e da condenação do adultério como uma hipocrisia à luz de suas décadas anteriores de relação extra-conjugal. Outros acreditam que o título de “Doutora” não deve ficar restrito apenas àqueles no campo da medicina e sustentam que as pessoas podem mudar ao longo do tempo, até mesmo ao ponto de repúdio total de comportamentos e crenças anteriores.

A Dra. Laura é tão controversa quanto popular, e atrai tanto flores quanto pedradas, sendo conhecida por abrigar opiniões fortes para se tornar parte das notícias diárias. Assim, aqueles que procuram gritar em Vermont contra o reconhecimento de uniões do mesmo sexo teriam facilmente o pensamento de Dra. Laura.

A “carta” para Dra. Laura pode ou não ter sido realmente enviada para ela, mas em qualquer caso, é melhor ser considerada como um ensaio oferecendo um contraponto para o argumento do tipo “a homossexualidade é errada porque a Bíblia assim o diz”. Embora ela pretenda ser dirigida a apenas uma pessoa (Dra. Laura), é claramente destinada a uma audiência geral. A autoria da carta ainda é um mistério, embora o nome “Kent Ashcraft” (ou “J. Kent Ashcraft”) continue sendo um dos mais cotados.

Deixando de lado a questão da autoria, este texto em maio de 2000 chegou a muitas pessoas, e em junho e julho daquele ano tinha aparecido em vários jornais, incluindo o Knoxville News-Sentinel (07 de junho), o Seattle Weekly (08 de junho), o OC Weekly (09 de junho), o The Post-Standard (11 de Junho), o Capital Times (13 de julho), e o Modesto Bee (22 de Julho). Na maioria das vezes a carta foi reconhecida como um item interessante recolhido a partir da Internet, mas em alguns casos os leitores que a enviaram para os jornais a apresentaram como suas próprias palavras, o que torna a pergunta sobre quem realmente escreveu ainda mais difícil de responder.

A chave para este ensaio é sua premissa, não seus detalhes pedantes ou como é defendido. Simplificando, a carta aponta as falhas lógicas do argumento “a homossexualidade é errada porque a Bíblia assim o diz”: se a homossexualidade é errada porque vai contra a lei de Deus tal como descrito na Bíblia, por que não são consideradas da mesma forma uma série de atividades agora vistas como inócuas, mas antes vistas como inaceitáveis e ofensas contra a lei de Deus? Como pode uma parte de Levítico ser considerada como gravada na pedra quando as outras partes têm sido descartadas como arcaicas?

O ensaio conclui com a resposta sarcástica: “Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.” Embora esta seja apresentada como uma reprimenda apenas para uma pessoa, na verdade é um lembrete geral de que muitos sistemas de crenças escolhem seu caminho através de ensinamentos bíblicos para determinar o que é certo e o que é errado, com essas avaliações mudando ao longo do tempo, mesmo dentro de seitas que orgulham-se de uma estrita observância da Bíblia.

No início de outubro de 2000, a Dra. Schlessinger publicou um anúncio de página inteira na Variety oferecendo um pedido de desculpas para o que ela chamou de palavras “mal escolhidas” sobre a homossexualidade. Ela já tinha se referido aos gays como “erros biológicos” e “desviantes”, como exemplificado pela sua intervenção de 08 de dezembro de 1998:

“Sinto muito - ouça mais uma vez, perfeita e claramente: Se você é gay ou lésbica, é um erro biológico que inibe você de se relacionar normalmente com o sexo oposto. O fato de que você é inteligente, criativo e valioso é tudo verdade. O erro está na sua incapacidade de se relacionar sexualmente, intimamente, de uma forma amorosa com um membro do sexo oposto - é um erro biológico.”

(A homofóbica Dra. Laura Schlessinger)

No outono de 2004, a Carta reapareceu como tendo sido enviada ao presidente George W. Bush em sua campanha para um segundo mandato, e a peça circulou mais uma vez, desta vez dirigindo-se ao “Caro Presidente Bush”, em vez de “Cara Dra. Laura”. Após o “Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável” que fecha a carta para a Dra. Laura, a versão atualizada dirigida ao presidente continuou: “Deve ser realmente ótimo estar em condições tão íntimas com Deus e seu filho, até melhor do que você e seu próprio pai, hein?”

Independente do verdadeiro autor, a carta é uma resposta sarcástica muito adequada para contrapor os argumentos fundamentalistas que sempre demonizam os homossexuais. Continuemos, então, espalhando este texto mundo afora!

sábado, 28 de janeiro de 2012

[Notícia] Uma lição (cristã) de amor ao próximo LGBT...

Por Paulo Stekel
Uma foto está correndo o mundo virtual esses dias. Vejam:


Ela fala por si quando lemos o que realmente aconteceu, conforme o site Imgur:

“A Christian group shows up to a Chicago Gay Pride parade holding apologetic signs including "I'm sorry for how the Church treated you".”

“Um grupo cristão aparece a um desfile do Orgulho Gay em Chicago segurando cartazes apologéticos, incluindo "Eu sinto muito de como a Igreja tratou vocês".”

Fonte: http://imgur.com/bVD9p

Tão interessante quanto a foto e a atitude deste grupo cristão dos EUA são alguns comentários a ela no próprio site Imgur. Para quem lê em Inglês, vale a pena conferir.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Homotheosis e a Arte

Por Claudiney Prieto (trecho do livro “Wicca para Todos”, disponibilizado gratuitamente pelo autor em http://pt.calameo.com/read/0001432751a1dba130852)


Hoje inúmeras pessoas nos Estados Unidos, Europa e Austrália acabaram por formar seus próprios grupos baseados em Mistérios Pagãos com ênfase na homossexualidade, se reportando aos antigos cultos de Dionísio, Príapo, Pan, Eros, Ganimedes, Antinous entre outras divindades do êxtase e da liberdade sexual.

Muitos são os Pagãos gays que se sentem excluídos com a visão heterossexista de algumas Tradições Pagãs, que consequentemente transformam o Paganismo em uma religião heteronormativa e separatista muitas vezes.

Por isso, formas de culto alternativas baseadas numa perspectiva mais pessoal, tornou-se uma solução para os homens que não se sentem à vontade em ter que encarar o Deus como princípio máximo heterossexual da masculinidade e do masculino, já que muitos Pagãos também são homens e não são heterossexuais.

O crescimento de movimentos Pagãos feministas ajudou a incentivar a formação de muitos outros grupos focados no estudo e prática e de uma espiritualidade centrada na religiosidade e sexualidade não patriarcal. Estas buscas resultaram na formação de grupos que reuniram diversas pessoas previamente marginalizadas socialmente. Os gays, lésbicas e transgêneros incluem-se nessa tão massacrada categoria da sociedade.

Isto representou um passo importante na tentativa e processo de reverter uma situação de preconceitos, marginalização e misoginia que perdurou por séculos e que ainda é alimentada pela sociedade patriarcal machista.

O movimento ao redor da formação de grupos que buscam uma espiritualidade gay distinta iniciou-se há muitos anos, com os pioneiros da espiritualidade Queer se juntando em sociedades alternativas com o intuito de explorar suas conexões com o Divino. Os primeiros registros desses grupos datam da década de 70. Eu mesmo durante muito tempo de minha vida tive problemas em me relacionar com a figura do Deus Astado, já que eu era homem como ele mas não era heterossexual como expresso na maioria de suas iconografias e mitologias. Ao ter contato com o Paganismo Queer eu pude perceber que existiam outras formas de encarar a figura do Deus, que ele representa o masculino em sua totalidade e tudo o que está contido nesse arquétipo e que ele era, inclusive, a expressão da homossexualidade tão renegada pelos segmentos tradicionalistas da Arte.

Isso me possibilitou uma nova percepção de espiritualidade e uma cura com o Sagrado Masculino que, até então, não tinha ocorrido comigo ao usar as referências mais comuns disponíveis de relação com a figura do Deus. Como Diânico, me relacionar com o Deus de Chifres sempre foi muito difícil uma vez que minha Tradição é extremamente orientada para a Deusa. A forma do Deus apresentada
pelo Paganismo Queer tornou esta relação muito mais fluida e fácil para mim. O que eu percebi ao longo de todo esse tempo é que, como eu, muitos praticantes gays do Paganismo moderno percebem as figuras heteronormativas da Deusa e do Deus como demasiadamente limitadoras. Por isso, muitas crenças e práticas Pagãs entre os Queers foram autoconstruídas e/ou ampliadas pelos membros deste movimento. Uma das mais surpreendentes é a celebração de um Deus patrono dos gays, o Deus Queer. Este Deus é chamado por muitos outros títulos: Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho. Em cada um dos seus muitos aspectos o Deus Queer assume um atributo diferenciado e acredita-se que sua energia só seja acessada quando ele é invocado pelos gays.

Muitos praticantes tradicionalistas da Arte acham absurda a idéia da criação de novos Deuses, mas esta prática é fundamento de todas as mitologias do mundo. Os homens criaram seus Deuses ao longo da história de acordo com suas necessidades espirituais, emocionais e materiais, assim como criamos um ideal social ou político elaborado ou simples.

Um Deus somente para os Queers pode ser considerado uma criação mitológica moderna simbólica para expressar reafirmação espiritual e identidade. Levando em consideração o tratamento que os gays recebem diariamente por parte da sociedade, o Deus Queer se transformou em protetor, companheiro e confidente para muitos que se sentem excluídos da religião e sociedade em função de sua opção sexual. Ao contrário do que muitos pensam essa figura do Deus não promove o separatismo, mas a inclusão. Ele é o Deus que conduz o ser ao reconhecimento do Sagrado dentro de cada um de nós e a aceitação de que o que é "diferente" é bom, pois promove a diversidade, pluralidade e multiplicidade e por isso deve ser celebrado e honrado.

Para os Pagãos gays, o Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Ele é a própria imagem da Deusa refletida na luz do êxtase, no momento infinito da Criação. Tornou-se o seu primeiro amante e é a expressão do amor puro, a alegria ilimitada e a sexualidade em suas amplas manifestações. Ele representa não a heterossexualidade ou homossexualidade em si, mas a sexualidade como o abraço apaixonado do Divino, em cada um de nós e no Universo.

Assim, quando nos ligamos a uma outra pessoa no êxtase do amor, seja numa relação homossexual ou heterossexual, abraçamos o Divino em nós mesmo, no outro e no Universo e nos ligamos ao momento infinito da Criação. Esta é a chave para começar a conexão com o Deus Queer. Sendo assim, Pagãos homossexuais ou bissexuais o consideram seu patrono, já que ele pode ser considerado masculino e feminino, amando e se relacionando com ambos. O Deus Queer é reconhecido em muitas Tradições de Bruxaria e em todas elas ele está relacionado ao Self Profundo, que é a corporificação do nosso Eu Divino, por onde emitimos e recebemos energia para trabalhar magia. Daí a grande importância da reafirmação de nossa sexualidade para a realização de atos mágicos. Então, para os gays, ele se torna uma figura poderosa não somente para a reafirmação de nossa espiritualidade, mas para o despertar de nosso verdadeiro propósito mágico, de nossa verdadeira magia.

Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão. O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer e para entendermos isso podemos recorrer a uma história da Tradição Sufi, o ramo esotérico do Islamismo que é muito diferente de sua facção ortodoxa, que conservou muito de suas crenças e filosofia primitiva centrada na Terra e em antigas crenças pagãs dos povos do deserto:


"Quando a Luz se manifestou e se viu refletida na vastidão do universo pela primeira vez, como um espelho, percebeu o seu Self como um pavão com a cauda aberta."

Sendo assim, os olhos da cauda do pavão são os brilhantes centros de concentração da Luz, simbolizando as virtudes espirituais irradiadas por Ela. O desdobramento da cauda do Pavão simboliza o desdobramento cósmico da Luz, seus muitos olhos, sua onipresença. Muitos dizem que a forma encontrada na cauda do Pavão não seria os olhos da divindade primordial e sim a própria
imagem do Big Bang no momento da Criação ou o retrato do próprio Universo. Podemos perceber assim a similaridade entre a história Sufi e o mito da Criação da Tradição Feri de Bruxaria, onde o Deus Queer, chamado nesta Tradição pelo nome de Deus Azul, é o primeiro reflexo da própria Deusa:

"... naquele grande movimento, Myria foi levada embora e enquanto Ela saía da Deusa, tornava-se mais masculina. Primeiro, Ela tornou-se o Deus Azul, o bondoso e risonho Deus do Amor."

Eu vejo em tudo isso algo muito mais profundo do que a visão simplista do separatismo, etiquetar um movimento ou o mundo com títulos e estereótipos, argumentos muitas vezes usados para acusar aqueles que lançam novas idéias e interpretações de um contexto ou conceito que precisa ser revisto pela sociedade.

Para mim, o Paganismo Queer dá um novo sentido à espiritualidade humana, ao passo que a homossexualidade que foi tão renegada pela humanidade por séculos assume um sentido espiritual, avança e passa a fazer parte da vida de todas as pessoas em seu dia a dia como uma expressão sexual perfeitamente normal e sagrada, quando antes era vista como uma doença que devia ser banida da sociedade. Para mim isso é a expressão clara da ressacralização do que verdadeiramente somos.

A religião precisa compreender e responder às necessidades, tanto dos indivíduos quanto das comunidades a quem ela serve no mundo moderno. Quando uma religião não consegue adaptar sua estrutura aos avanços naturais do tempo, perde sua autoridade e se estagna. Isto faz com que seus símbolos deixem de inspirar e fortalecer seus seguidores, negligenciando suas experiências e marginalizando sua identidade e valores. Uma religião que não dialoga com sua comunidade se torna nula e vazia. O que os Pagãos Queer fazem é dar uma resposta a esta perda de significado espiritual, recriando novas formas de contatar o Divino que falem às experiências atuais daqueles que sentem e percebem o Sagrado de forma diferenciada. Isto cria uma tradição espiritual de poder, ligada àquilo que um dia existiu mas com raízes no presente, com uma visão abrangente e abertura para as gerações do futuro.

Os Pagãos Queer reconhecem que ser diferente não é motivo algum para vergonha, mas uma dádiva a ser celebrada, uma aceitação dos desafios e jornadas individuais de celebração ao Sagrado Masculino que existe no interior de homens que amam outros homens.

O homem gay também deve restaurar os poderes do Deus que reside dentro de si. Há muito temos sofrido com os preconceitos e represálias da sociedade, que provocou verdadeiros traumas e problemas de auto-aceitação e baixa auto-estima.

O Paganismo precisa rever muitos de seus conceitos, devolvendo aos gays os ritos que celebram os seus Mistérios sagrados, o que inclui transformar os rituais em cerimônias menos heterossexistas e mais abrangentes, para que todos possam contemplar a beleza numa religião que celebra e respeita a diversidade.

O Paganismo Queer não fala em limitar a espiritualidade pelo gênero ou pela preferência sexual. Fala em ampliar os horizontes, dando aos Pagãos ainda mais opções para enriquecer sua espiritualidade. Não estamos falando aqui em um Paganismo onde seja suprimida a presença da Deusa. Pelo contrário, estamos falando da apresentação de um Paganismo que apresente o Deus de uma maneira diferenciada, como Ele nunca foi apresentado em outros segmentos da Arte e que considere os arquétipos divinos homossexuais do Deus como sagrados também.

No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela. Eu gosto muito do termo Queer para nomear esta nova forma de espiritualidade. Os precursores deste movimento deram o nome de Queer Paganism (Paganismo Queer) a este tipo de manifestação Pagã exatamente pelo sentido amplo da palavra:

"QUEER" - 1. ser fora do padrão, singular, diferente, o oposto de comum; 2. o contrário de hetero.

A palavra Queer dá margem para várias interpretações, mas ela jamais é usada de forma depreciativa, uma vez que significa simplesmente o oposto do comum. O Paganismo Queer pode ser transformador aos Pagãos gays, pois lhes auxilia a resgatar o verdadeiro significado de sua sexualidade e identidade.

A cultura patriarcal apoiada no poder do Phallus talvez seja a maior responsável pelos traumas, tão freqüentes em nossa sociedade, que assolam homens e mulheres pois foi através da ênfase no poder masculino sobre o feminino, difundida há séculos, que nossa cultura desenvolveu seus preconceitos.

Como um reflexo disso, qualquer inabilidade para usar o Phallus é vista até hoje pela sociedade e pelo próprio indivíduo como algo que coloca a masculinidade de um homem em questão.

Como o poder do Phallus é apoiado na descendência, que confere uma forma de imortalidade e honra, as culturas começaram a desenvolver seus tabus sociais como por exemplo o repúdio à homossexualidade. O uso do Phallus não somente para a reprodução passou a ser percebido como debilidade e falta de caráter, já que poderia pôr em risco a continuidade da descendência e sua riqueza.

Este medo foi acentuado pelos sacerdotes das religiões patriarcais através da masculinização da divindade criadora tornando o Phallus, o sexo e todas as fontes de prazer na origem do pecado e maldição. Assim, passaram a usar este artifício para ganhar poder sobre os homens e controlá-los, pois se o que dá prazer tornase um desejo incontrolável, porém é vergonhoso, transforma-se em uma ferramenta de controle social ao passo que precisa ser reprimido e proscrito. Cada paixão ou desejo espontâneo se tornou pecaminoso. Tudo o que era livre precisava ser destruído, incluindo os desejos sexuais homossexuais.

É hora de explorarmos a ressacralização da homossexualidade através do entendimento do seu mais sagrado Mistério: a Homotheosis. Este Mistério ensina que nossos medos e sombras de sermos quem verdadeiramente somos devem morrer, para que nosso espírito se torne sagrado e seja verdadeiramente livre e alcance a Totalidade.

O propósito de celebrar os Mistérios Masculinos da homossexualidade novamente é despertar o poder interior do homem gay, pondo-o em contato direto com o que ele teme ou se envergonha para que ele possa vencer suas limitações e resgatar seu orgulho, força e dignidade. Desta forma os gays não se sentirão mais sozinhos ou aterrorizados na jornada de seu autoconhecimento sobre o que verdadeiramente é ser homem. Descobrirão que se tornar um homem de verdade não está ligado a sua preferência sexual, virilidade ou fragilidade mas sim a sua maturidade emocional e espiritual. Tornar-se homem inclui vencer os limites, barreiras e tabus que o impedem de expressar-se como ele verdadeiramente é, sem máscaras.

O Paganismo Queer vai muito além de uma briga de sexos ou identidade sexual, como alguns podem alegar. Seu verdadeiro significado está em penetrar nos Mistérios do Deus, que também tem sua face gay, que ama e aceita TODOS os seus filhos como eles são e que conhece que a autêntica masculinidade não está centrada em seu Phallus, mas em seu coração. Se vamos conhecer isso através da Deusa ou do Deus Queer, não importa. O importante é obter esta transformação. Quando isso acontecer, seremos verdadeiramente livres!

Sobre o autor:

Claudiney Prieto é pioneiro da Wicca no Brasil e um dos autores mais respeitados e conhecidos da atualidade! Com diversos livros publicados sobre Wicca e Paganismo, há mais de 15 anos o autor tem sido presença constante na mídia para esclarecer sobre as práticas e fundamentos da Antiga Religião. Suas obras se tornaram populares entre os Pagãos de diversas linhas e têm auxiliado a comunidade Pagã brasileira e latino-americana a conhecer e se aprofundar na prática e filosofia da Religião Wicca. Claudiney renova seus pensamentos a cada página que escreve, transmitindo com magnificência o conhecimento dos diferentes temas que compõem os exercícios de autotransformação e aprendizagem aos praticantes da Wicca. Acesse o site oficial do escritor: http://www.wiccanaweb.com.br

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

[Evento] Palestra sobre Espiritualidade Inclusiva no Fórum Social Temático – Porto Alegre – RS

Por Paulo Stekel

Imperdível! No próximo dia 25 de janeiro, às 13h, no Auditório da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre – RS, o professor, jornalista e músico Paulo Stekel fará a primeira palestra pública do Movimento Espiritualidade Inclusiva, como parte das atividades autogestionárias do Fórum Social Temático (FST), que se realizará entre 24 e 29 de Janeiro em quatro cidades da região metropolitana - Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo - (confira a programação completa do fórum em http://www.fstematico2012.org.br).

Com o tema "Espiritualidade Inclusiva - a aceitação da comunidade LGBT pelas religiões no Brasil", a palestra discorrerá sobre a visão inclusiva da espiritualidade - aquela que considera os direitos religiosos da comunidade gay (LGBT) - como um fator de inclusão e justiça social dos LGBT na sociedade brasileira, buscando inserir os gays e todos aqueles que expressam a diversidade de orientação sexual numa religiosidade sem o preconceito fundamentalista que se tem observado em nosso país. A palestra será interativa, contando com relatos de experiências contadas no blogue Espiritualidade Inclusiva – http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com, que congrega textos de várias tradições espirituais e sua visão sobre a natureza homossexual, e também relatos do público presente sobre suas experiências religiosas.

A palestra tem como público-alvo a comunidade em geral, os movimentos religiosos e o público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), e marcará o nascimento efetivo do Movimento Espiritualidade Inclusiva, que acaba de obter o apoio e a parceria da Coordenadoria de Políticas de Diversidade, ligada diretamente ao Gabinete da Prefeitura de Canoas – RS e coordenada por Paulo Rogério Ambieda (Paulinho de Odé).

Contamos, então, com a presença em massa dos amigos da comunidade LGBT da região metropolitana e de todos aqueles que virão de outras partes do Brasil para participar do Fórum Social Temático. Ajudem a divulgar este evento, pois é muito importante para a Inclusão e a Diversidade.

Após a realização da palestra, entre os dias 25 e 29, Paulo Stekel estará engajado nas atividades do Fórum Social Temático em Canoas, junto ao espaço da Coordenadoria de Políticas de Diversidade (ver: http://www.canoas.rs.gov.br/site/departamento/index/id/44). Entre as atividades previstas para Canoas, está uma palestra de Stekel no Galpão da Diversidade, que vai estar situado no Parque Esportivo Eduardo Gomes. No local também haverá exposição fotográfica e oficinas. Confira detalhes no website da Prefeitura de Canoas: http://www.canoas.rs.gov.br/site/noticia/visualizar/id/4212

Atualização: A Palestra de Paulo Stekel sobre "Espiritualidade Inclusiva" no Fórum Social Temático no dia 25/jan, 13h, na sala 03 (auditório) da Usina do Gasômetro, já está na lista das atividades no site do Fórum. Agende-se! http://www.fstematico2012.org.br/index2.php?link=16
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Palestra: "Espiritualidade Inclusiva - a aceitação da comunidade LGBT pelas religiões no Brasil"
Ministrante: Paulo Stekel
(professor, escritor, jornalista e músico, praticante budista, administrador do blogue Espiritualidade Inclusiva e idealizador do movimento de mesmo nome)
Data: 25 de janeiro (quarta-feira), 13h
Local: Auditório da Usina do Gasômetro (Porto Alegre – RS)

[Notícia] O exemplo da Coordenadoria de Diversidade em Canoas – RS

Por Paulo Stekel

No dia de ontem, 16 de janeiro, na qualidade de editor do blogue e idealizador do Movimento “Espiritualidade Inclusiva” (sim, já somos um movimento, e ele está crescendo diariamente!), fomos a uma reunião na Coordenadoria de Políticas de Diversidade, ligada diretamente ao Gabinete do Prefeito de Canoas – RS, o Sr. Jairo Jorge.

A reunião teve por objetivo apresentarmos ao responsável pela Coordenadoria, o sr. Paulo Rogério Ambieda (Paulinho de Odé) [ver foto abaixo], a nossa proposta como Movimento Espiritualidade Inclusiva e como podemos trabalhar em parceria com a Coordenadoria e as ações da Prefeitura de Canoas em prol da diversidade de orientação sexual, do diálogo inter-religioso e da visão inclusiva.
(Paulo Rogério Ambieda, o Paulinho de Odé, à frente da Coordenadoria de Políticas de Diversidade em Canoas - RS)
Inicialmente, o sr. Paulinho de Odé apresentou o trabalho desenvolvido pela Coordenadoria e revelou que esta é a primeira Coordenadoria de Políticas de Diversidade com status de secretaria do Estado do Rio Grande do Sul e, muito provavelmente, uma das únicas com esse status no Brasil inteiro. Foi criada na atual administração com a missão de promover a dignidade, garantir os direitos humanos e o acesso à justiça, mediante o combate à discriminação e a proteção aos grupos vulneráveis com geração de oportunidades e inclusão social. Ela tem poder de voto em ações do executivo que possam interferir na parcela dos cidadãos relacionados às políticas da Coordenadoria. Na verdade, esta foi a primeira Coordenadoria de Diversidades de uma Prefeitura no RS. A Coordenadoria de Diversidade de Canoas tem um caráter bem mais político-social que político-partidário, já que o objetivo é chegar a todas as camadas da sociedade e cumprir seus vários objetivos, definidos pelos focos principais de ação:

- Diálogo inter-religioso (vários eventos de diálogo entre as religiões já foram realizados, especialmente entre as religiões de matriz africana e as correntes do Cristianismo, frequentemente envolvidas em ações discriminatórias contra os africanistas);

- Inclusão das religiões historicamente excluídas (estas religiões são a umbanda, o candomblé – e correntes similares, e o espiritismo – várias ações de inclusão destas religiões no meio social, cultural e educacional);

- Diversidade de orientação sexual (ações no campo da saúde, segurança e cultura – a Coordenadoria já realizou três Paradas Livres, sendo que a Parada de Canoas já é a terceira maior do RS e, provavelmente, a mais bem organizada de todas – a ideia é que a partir deste ano venha a ser a maior parada do RS – realização de palestras em empresas, seminários e encontros regionais, alertando sobre os riscos e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis);

- Diversidade cultural (apoio a ONGs com propostas de inclusão social, ações de promoção da diversidade cultural em comunidades carentes);

- Diversidade étnica (trabalhada basicamente nos terreiros africanistas, onde se pode encontrar a maior diversidade étnica convivendo harmonicamente no Brasil).
Para o Coordenador, Paulinho de Odé, que já participou de vários movimentos LGBT no RS, a homofobia começa dentro da família (agressões, expulsão de casa) e depois vem a estender-se à escola (bullying homofóbico, evasão escolar). Segundo ele, a Coordenadoria de Diversidade é uma ferramenta do movimento social. Ele defende o protagonismo compartilhado entre o poder público e o movimento da diversidade.

Numa conversa muito agradável que durou cerca de duas horas, o Coordenador revelou-nos as dificuldades em trabalhar a inclusão da diversidade de orientação sexual entre alguns grupos religiosos mais fundamentalistas. Realmente, esta é uma das tarefas mais difíceis de se realizar quando um dos lados não está disposto a dialogar e a inserir-se no todo da sociedade de um modo pleno. Contudo, a impressão que tivemos ao vermos a equipe da Coordenadoria, foi a mais positiva possível. Entre os parceiros da Coordenadoria estão sacerdotes africanistas e integrantes de movimentos ligados à Igreja Católica. É um trabalho louvável e necessário que deveria ser multiplicado pelo Brasil todo.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania, o índice de violência contra os LGBT teve uma diminuição considerável desde a implantação da Coordenadoria de Diversidade.

Ao final da reunião, tivemos o compromisso de apoio por parte da Coordenadoria de Políticas de Diversidade ao Movimento Espiritualidade Inclusiva. Desta forma, teremos participação em atividades realizadas pela Coordenadoria no Fórum Social Temático em Canoas, que se realizará entre 25 e 29 de janeiro. Além disso, o coordenador colocou a nossa disposição o espaço físico da Coordenadoria para realizarmos reuniões e propormos atividades e novas ações, numa parceria que será claramente de um enorme sucesso.

Para saber mais sobre a Coordenadoria de Políticas de Diversidade de Canoas – RS, acesse: http://www.canoas.rs.gov.br/site/departamento/index/id/44


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os Gays e a Bíblia

Por Frei Betto (artigo postado originalmente em http://www.freibetto.org/index.php/artigos/85-os-gays-e-a-biblia)

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homo-afetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homo-afetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subentendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homo-afetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.


Sobre o autor
Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.

Fundamentalismo

Por Valéria Nagy

O fundamentalismo é a crença na interpretação literal da Bíblia (ao pé da letra); são as religiões ortodoxas, ou seja, que não aceitam ideias de reforma em sua doutrina; são quaisquer doutrinas ortodoxas.
As principais religiões sempre foram fudamentalistas. Os judeus, ainda que tenham se modernizado um pouco, mantém ainda uma parte ortodoxa; os cristãos subdivididos em católicos, protestantes, evangélicos (pentecostais e neo-pentecostais), espíritas... têm a porção mais fundamentalista, se posso assim dizer, principalmente entre os evangélicos; e os muçulmanos são os mais fundamentalistas. Sejam mais ou menos, esse radicalismo está presente em todas elas, o que é, a meu ver, uma trava nos passos da evolução humana.
Viajando na história, lembremos do fundamentalismo católico da Idade Média denominado Santa Inquisição, fundamentalismo esse que dizimou milhões de seres humanos, pelos meios mais dolorosos que se possa imaginar. Além de prender os considerados hereges, a Igreja de Roma torturou com requintes da mais absoluta crueldade centenas de milhares de pessoas, até a sentença final: a morte. As Cruzadas destruíram e mataram populações de cidades inteiras "em nome de Deus". Na verdade, em nome do Papa.
Já são décadas de conflitos intermináveis no Oriente Médio por conta do fundamentalismo religioso. Muçulmanos e judeus se matam pela Terra Santa, uma terra de ninguém, haja vista o quanto sangue já escorreu por ali e nada mudou; grupos radicais também; e a indignação com o ocidente provoca ataques terroristas como o que vimos em Nova York, em 2001. Matam-se líderes como Sadam Hussein, Osama Bin Laden, Muamar Kaddafi... e daí, o fundamentalismo acabará por causa disso? Não. Pelo contrário, isso só faz aumentar a raiva dentro desses indivíduos, que se autoexplodem em nome de Allah.
Paralelo ao Oriente Médio, vemos crescer o fundamentalismo evangélico, onde religiões pregam o ódio contra outras religiões e contra comportamentos sociais que eles consideram pecado. Com a força da mídia a seu lado, vão propagando sua doutrina a quem possam alcançar, pois as grandes igrejas têm emissoras ou programas de TV aberta e de rede nacional. No momento em que o mundo se prepara para uma grande mudança, como será o arrebatamento? A "fúria" de Deus salvará somente os seguidores dessas religiões?
É preciso parar. Parar e pensar. Será que o fundamentalismo levou a humanidade para algo bom? Será que a Bíblia, a Torá ou o Alcorão devem ser interpretadas de forma tão radical, ao pé da letra? Por que ignorar as palavras de Paulo Apóstolo, quando disse que "a letra mata, mas o Espírito vivifica" (2 Coríntios 3:6)? O que o apóstolo quis dizer? Não nos esqueçamos das milhões de mortes "em nome de Deus" e o aumento da violência "em nome de Jesus" que vimos e vemos por aí. Vamos pensar um pouco melhor no sentido da existência da religião?

Paz Profunda!
Twitter: @nagy_valeria

sábado, 14 de janeiro de 2012

[Tradução] Uma religião muito “queer”*

(Por Toby Johnson** – acesse o site do autor: http://tobyjohnson.com)

* Nota do Tradutor - Em Inglês, o termo “queer” é usado para referir-se aos gays. Significa “estranho” ou “esquisito”. Apesar de seu uso pejorativo – a ponto de ser por vezes traduzido por “bicha” – Toby Johnson não o usa com conotação pejorativa, mas inclusiva.
** Tradução de Paulo Stekel

Uma religião queer não pode significar algo como fazer as bichas serem religiosas, ou seja, fazer-nos voltar para a igreja/sinagoga/templo/mesquita, etc, para acreditarmos nos mitos populares e aceitarmos a autoridade de líderes religiosos.

Uma religião queer deve significar o reconhecimento da multiplicidade de vozes e perspectivas em todo o mundo, o elevar-se acima da religião de origem para observá-la como mais uma tradição entre muitas.

Para muitos de nós tal tradição tem sido o Cristianismo, e, nesse sentido, com uma maior e mais elevada perspectiva, - o que é chamado de "espiritualidade" - permite uma resposta simples sobre a história da Igreja e a opressão baseada na Bíblia: é tudo mito de qualquer maneira, tome o que é significativo para você e deixe o resto para trás.

Isso é religião queer: deve-se compreendê-la, não "acreditar" nela. Ela liberta você da religião enquanto mostra o que ela realmente era, inicialmente, e assim "despertando" você para a natureza da consciência e a natureza de "Deus", como uma dica sobre quem você realmente é como entidade consciente inquirindo sobre a natureza de sua existência.

O cerne das tradições mitológicas é aumentar a visão das pessoas acima das preocupações cotidianas e egoístas e inspirar compaixão. O objetivo da religião não é estar certa, mas ser amorosa e gentil. Se a Bíblia diz que os homossexuais devem ser apedrejados, é evidência de uma bíblia ultrapassada e inadequada para abordar questões da vida contemporânea.

Você não precisa explicar "textos de horror", aqueles versículos da Bíblia que são citados fora do contexto, para justificar a condenação da homossexualidade como algo inevitável, porque é "a vontade de Deus." Você pode simplesmente rasgar as páginas do livro.

Na verdade, você pode achar que seria mais simples salvar apenas uma página, como uma regra de ouro de Jesus sobre isso e jogar fora todo o resto. Isso é provavelmente o que o próprio Jesus teria feito.

A mensagem a ser aprendida a partir da observação das atitudes anti-gays e do comportamento das igrejas cristãs é que é hora de seguir em frente. Vamos jogar fora o bebê com a água do banho, porque na verdade a água está suja, o bebê morreu e o corpo está em putrefação, merecendo um enterro respeitoso.

Não é suficiente para o Cristianismo Queer seguir buscando os significados originais, ou descobrir que Jesus teria sido pró-gay, ou se ele tinha as palavras para falar sobre tais questões - embora, naturalmente, isso seja verdade. A Cristandade é mais uma voz no diálogo sobre o significado espiritual - e ela tem um sotaque muito antiquado.

Você próprio precisa estranhar a religião. Todos nós, gays e heterossexuais, precisamos de um novo paradigma espiritual que faça sentido no mundo moderno e fale com uma voz moderna e esclarecedora. Isso, eu acho, é o que é "espiritualidade gay", é a direção para onde a raça humana está evoluindo.

O "novo mito" é o conto do que a religião e o mito têm sido na história da evolução da consciência. Podemos entender que estas coisas têm sido metáforas sobre a consciência.

Esta constatação é a seguinte: 1) um mito de ordem superior, 2) uma “queerização” real - no sentido de despojar - da religião e das noções tradicionais de autoridade religiosa, e 3), ironicamente, a salvação da religião como uma forma de alta cultura, arte.

Se a religião e o mito estão em concorrência com a ciência para descrever o mundo material externo, a religião necessariamente perderá. Se a nova compreensão da religião e do mito é a ferramenta científica para descrever as estruturas da consciência profunda no interior, no mundo "espiritual", então a religião e a ciência trabalham lado a lado, em prol da evolução e expansão da consciência.

Pois, tudo isto é fundamentalmente a respeito do Universo despertando para si. De um modo paralelo e profundamente significativo, eu acho que ser queer é despertar para si mesmo. Ninguém se identifica como gay ou “bicha” sem ter despertado de alguma forma, isto é, sem ter compreendido os indícios que suas vidas dão sobre sua própria experiência interior da consciência.

Ser queer, ser gay dá-nos o suporte notório para a compreensão e o movimento em direção ao novo mito que é a vanguarda da evolução da consciência. É ser um com o universo em evolução, sendo um com o Big Bang, sendo um com "Deus".

O caminho para a religião queer é ser Deus.


Sobre Toby Johnson

Toby Johnson, PhD, é autor de oito livros: três livros de não-ficção que aplicam a sabedoria de seu professor e "velho sábio", Joseph Campbell aos modernos problemas sociais e religiosos cotidianos, três romances do gênero gay que dramatizam temas espirituais no âmago da identidade gay, e dois livros sobre a espiritualidade de homens gay e a experiência mística da homossexualidade.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

[Editorial] Sexta-feira 13 e a bruxa do preconceito

Por Paulo Stekel


Hoje, dia 13 de janeiro de 2012, é sexta-feira 13. Também é o dia em que nosso blogue Espiritualidade Inclusiva completa um mês muito bem-sucedido. As estatísticas que vejo neste momento não me deixam mentir: 31 postagens de diversos autores, mais de 2100 visitantes, mais de 2700 visualizações de página e diversos comentários, sem contar uma tentativa de tirar-nos do ar já nos primeiros dias!

Até o momento, a postagem mais lida é o artigo “Quero ser um yorkshire”, que caiu no gosto da comunidade LGBT por motivos óbvios – a relação com o fato noticiado pela mídia da morte do cãozinho por uma desequilibrada e a posterior comoção nacional pelo animal, algo que nunca se vê nos assassinatos homofóbicos mais cruéis.

O segundo artigo mais lido até agora é “Wicca e polaridade”, publicado ontem, e de autoria de Claudiney Prieto, especialista em paganismo no Brasil. O motivo do sucesso, além da capacidade do autor, é algo que já vinha percebendo: muitos gays jovens estão se voltando para as práticas wiccanas, especialmente aquelas relacionadas ao Paganismo Queer, que aceita e valoriza a presença de homossexuais. Podemos dizer que o Paganismo Queer é a ala inclusiva do Paganismo Wicca.

O terceiro artigo mais lido até o momento é “A demonização dos gays nas Igrejas Neo-Pentecostais – o exemplo da IURD”. O feedback mais intenso aqui nos veio dos membros LGBT das Igrejas Evangélicas Inclusivas e de alguns movimentos inclusivos nascidos do Catolicismo – como o Diversidade Católica. Os gays cristãos concordam que é necessário contrapor os pseudo-argumentos de fundamentalistas como os da IURD, Assembleia de Deus e símiles com uma força proporcional à enviada contra nós, mas sem a agressividade e a baixaria que se vê em programas de TV destas Igrejas. Aliás, a baixaria de um Malafaia em seu programa de TV contrasta com a linguagem de amor pregada pelo Evangelho. Quando vemos um pastor vociferando clichês preconceituosos de modo chulo e minimizando a pessoa humana em nome de Deus, passamos a ter certeza de que este homem não tem autoridade alguma, seja na terra ou no céu!

A bruxa do preconceito anda à solta nas ruas, na mídia e nos templos religiosos do Brasil. Nas ruas, pessoas continuam sendo agredidas – moral e fisicamente – por conta de sua orientação sexual. Centenas são assassinadas anualmente unicamente por causa disso! E, exatamente aqueles que deveriam defender a vida dos cidadãos brasileiros – pastores e deputados – ainda culpam os mortos pelo ocorrido, quase chegando a inocentar criminalmente os assassinos. Isso é inadmissível num estado laico cuja Constituição deixa clara que todos são iguais perante a lei!

Após este primeiro mês, o Espiritualidade Inclusiva entra em uma nova fase, para dar mais um passo em direção à conscientização de que a espiritualidade não pode ser excludente. Deve incluir todos os cidadãos em pé de igualdade: homens, mulheres, brancos, negros, índios, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, etc.

Como uma de nossas primeiras ações de movimento fora da Internet, propomos uma atividade autogestionária no Fórum Social Temático, em Porto Alegre - RS. Realizaremos uma palestra interativa para explicar o que é Espiritualidade Inclusiva no dia 25 de janeiro. Então, as pessoas que virão ao Fórum Social Temático (24 a 29 de janeiro) já podem ficar antenadas na programação.

Continuamos abertos a críticas, sugestões, artigos e notícias de colaboração, dicas e depoimentos de quem queira passar aos leitores do blogue suas experiências com a religião e a espiritualidade. O formato do blogue não é fechado e podemos melhorá-lo ou modificá-lo sempre que for útil e necessário.

Então, uma ótima sexta-feira 13 para todos os nossos leitores, e que a única bruxa à solta seja a da alegria, do encontro com os amigos, do convívio em família (sem preconceito) e da luta pelos direitos igualitários!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

David e Jônatas: homo-afetividade bíblica?

Por Paulo Stekel
 Há muitos anos me interesso pela história homo-afetiva de David e Jônatas, um, o pai do futuro Rei Salomão, o outro, filho do tirânico Rei Saul. Não são poucos os pesquisadores, linguistas, arqueólogos e até sacerdotes cristãos que imaginam no relato bíblico sobre estas personagens uma relação homo-afetiva velada. É claro que a ala fundamentalista do Cristianismo rechaça a ideia com toda a veemência do seu discurso sempre vazio de argumentos mas cheio de agressividade. Contudo, os indícios existentes no próprio texto bíblico não são pouco nem irrelevantes.

Em meu livro “Elohê Israel – filosofia esotérica na Bíblia” (versão impressa de 2001 e versão digital de 2006 – baixe trechos do livro em http://stekelmusic.blogspot.com/2011/05/livros-de-stekel-e-books-em-pdf.html), uma das obras que uso como material didático em meus cursos de Cabala, Hebraico antigo e Interpretação Bíblica, discorri sobre o tema analisando o que diz o texto original em Hebraico. Reproduzo abaixo os trechos do livros sobre David e Jônatas, com algumas inserções adequadas para o presente artigo:

“A história de David é uma das mais controversas e impressionantes do Antigo Testamento. Muitos dos seus feitos foram exagerados pelos redatores. A vitória sobre o gigante filisteu Golias pode não ter sido sua (cfe. I Sm 17.40-54), pois II Sm 21.19 diz: “Ainda em Gob, noutra guerra contra os filisteus, Elcanã, filho de Jair, de Belém, matou Golias de Gat; a madeira de sua lança era como cilindro de tear.” Se vê que não era consenso em Israel ter sido David o matador do Golias filisteu.

Morto o gigante, Saul passou a invejar David, enquanto o povo admirava o jovem. O próprio filho de Saul, Jônatas, parece ter amado David mais do que seria aceitável na sociedade israelita daquela época, embora fosse aceitável para os povos vizinhos a Israel. Atualmente, alguns teólogos têm aventado a hipótese de uma ligação homossexual entre David e Jônatas. Apesar da ideia causar espanto, na Grécia antiga esta era uma prática perfeitamente aceitável entre os homens, principalmente em períodos de guerra, quando os guerreiros abandonavam suas esposas para lutar. Entre os povos vizinhos a Israel esta parece ter sido uma prática muito comum, e deve ter sido tolerada em Israel por muito tempo, até ser criminalizada pelos sacerdotes deuteronomistas pós-exílicos. David, entretanto, como se sabe, tinha uma queda irresistível pelas práticas “pagãs”!

I Sm 18.1,3 diz: “Aconteceu que, terminando ele [David] de falar com Saul, a alma de Jônatas
apegou-se à alma de David
[orig. Hebraico -
venéfesh yehonathan niqsherah benéfesh davidh]. E Jônatas começou a amá-lo como a si mesmo [orig. Hebraico - vaye'ehavehu yehonathan kenafsho]. (...) Jônatas fez um pacto com David, porque o amava como a si mesmo. Jônatas tirou o manto que vestia e o deu a David, e também lhe deu a sua roupa, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão.”

As roupas são parte da personalidade. Então, ao dar suas roupas a David, o apaixonado Jônatas, pego, ao que parece, por um amor à primeira vista, se tornou ligado a David de um modo indissolúvel, como se fossem “almas gêmeas”.

"O termo “nefesh”, que se traduz por “alma” equivale também ao corpo na Cabala. Assim, a tradução incluiria o sentido: “(...) o corpo de Jônatas ligou-se ao corpo de David. E Jônatas começou a amá-lo como a seu próprio corpo.” Não se trataria de uma simples amizade, como nos tentaram fazer entender os redatores do livro de Samuel. Afinal, a lei deuteronomista não aprovava este tipo de relação, abominada por ser considerada prática pagã.

Analisemos mais alguns trechos sobre esta questão: “Ora, Jônatas, filho de Saul, tinha muita afeição [orig. Hebraico -
chafets] por David.” [I Sm 19.1] O termo “chafets” significa “gostar” e “desejar”. Devemos entender que Jônatas tinha “muito desejo por David”?"

Este trecho analisado se refere a um dos vários momentos em que Jônatas defende David dos ataques de seu pai, o Rei Saul:

“Saul comunicou a seu filho Jônatas e a todos os seus oficiais a sua intenção de levar David à morte. Ora, Jônatas, filho de Saul, tinha muita afeição por David, e advertiu a David dizendo: 'Meu pai busca a tua morte. Fica de sobreaviso amanhã de manhã, procura o teu refúgio e esconde-te. Eu sairei e permanecerei ao lado do meu pai no campo em que estiveres, e então falarei com meu pai a teu respeito, saberei o que houver e te informarei.'”

Quanto amor! Quando David precisou fugir em definitivo de Saul, que o queria matar:

“Então David fugiu das celas de Ramá e veio ter com Jônatas, dizendo: 'Que fiz eu? Qual a minha falta? Que crime cometi contra teu pai, para que procure tirar-me a vida?' Ele lhe respondeu: 'Longe de ti tal pensamento! Tu não morrerás. Meu pai não empreende coisa alguma, importante ou não, sem confiá-la a mim. Por que ocultaria tal plano de mim? Impossível!' David fez este juramento: 'Teu pai sabe perfeitamente que me favoreces e, portanto, diz consigo: 'Não saiba Jônatas nada a respeito disso, para que não sofra'. Mas, tão certo como vive Iahweh e como tu vives, existe só um passo entre mim e a morte.' Jônatas disse a David: 'Que queres que eu faça por ti?'” (I Samuel 20)

A cumplicidade entre ambos é evidente neste e em outros trechos. O que incomodava Saul, além da inveja do herói que David era, pode ter sido a ligação homo-afetiva deste com seu filho Jônatas. Ambos eram casados com mulheres mas, à moda grega, isso não seria impedimento naquela época para momentos homo-afetivos.

"I Sm 20.17 diz que Jônatas “o amava com toda a sua alma”. As ambições dos dois talvez fossem
maiores do que essa “amizade grega”, pois no momento em que Saul perseguia David, Jônatas o protegia de cada ataque, e disse, em I Sm 23.17: “Não temas, porque a mão de meu pai Saul não te atingirá. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o teu segundo. Até mesmo meu pai Saul bem sabe disso.” Seria possível que os dois reinassem juntos, caso Jônatas não tivesse sido morto em batalha? Para alívio dos ortodoxos, eivados de preconceitos e hipocrisia, esta é uma pergunta sem resposta.


Após a morte de Saul e Jônatas, David compôs uma lamentação (II Sm 1.19-27), onde, acerca do
amigo, revela: “Jônatas, a tua morte dilacerou-me o coração, tenho o coração apertado por tua causa, meu irmão [orig. Hebraico -
'achí] Jônatas. Tu me eras imensamente querido, a tua amizade [orig. Hebraico - 'ahavathkhá] me era mais cara do que o amor das mulheres [orig. Hebraico - me'ahavath nashim].” Há aqui um flagrante do receio de se traduzir corretamente um trecho pelas implicações que isso pode acarretar. O termo hebraico traduzido por “amizade” é o mesmo traduzido por “amor” das mulheres – é o termo 'ahavah, que significa “o amar, amor, amizade” e deriva do verbo 'ahev - “gostar, amar”. Assim, a tradução correta seria: “(...) o teu amor me era mais caro do que o amor das mulheres”! Fica claro, pela palavra usada, que David se refere ao mesmo tipo de amor, o do companheirismo de um relacionamento! Por isso o chama de 'achí, que, além de “meu irmão”, significa “meu companheiro”."

A lamentação completa de David a Jônatas é cheia de uma saudade amorosa impressionante:

“Pereceu o esplendor de Israel nas tuas alturas?
Como caíram os heróis?

Não o publiqueis em Gat,
não o anuncieis nas ruas de Ascalon,
que não se alegrem as filhas dos filisteus,
que não exultem as filhas dos incircunsisos!

Montanhas de Gelboé,
nem orvalho nem chuva se derramem sobre vós,
campos traiçoeiros,
pois foi desonrado o escudo dos heróis!

O escudo de Saul não foi ungido com óleo,
mas com o sangue dos feridos,
com a gordura dos guerreiros;
o arco de Jônatas jamais hesitou,
nem a espada de Saul foi inútil.

Saul e Jônatas, amados e encantadores,
na vida e na morte não se separaram.
Mais do que as águas eram velozes,
mais do que os leões eram fortes.

Filhas de Israel, chorai sobre Saul,
que vos vestiu de escarlate e de linho puro,
que adornou com ouro
os vossos vestidos.

Como caíram os heróis
no meio do combate?
Jônatas, a tua morte dilacerou-me o coração,
tenho o coração apertado por tua causa, meu irmão Jônatas.

Tu me eras imensamente querido,
o teu amor me era mais caro
do que o amor das mulheres.
Como caíram os heróis
e pereceram as armas de guerra?”


Me lembro, neste momento, da história do Imperador Adriano e de seu amante Antinous, pois aqui só estão faltando as estátuas votivas espalhadas pelo mundo antigo e o endeusamento do mancebo...

Não é o que entra pela boca o que contamina o homem...

Por Valéria Nagy

Pegando carona no post de Claudiney Prieto, que discorreu sobre a Wicca e a polaridade, e raciocinando em cima de certos conceitos e lógicas, penso: somos corpos biologicamente formados com órgãos masculino/ feminino. Ok. Esses corpos definem-se durante a gestação. Porém, o espírito já está determinado antes do corpo ser macho ou fêmea. E espíritos são energias possuidoras das duas polaridades, não tem sexo; carregam ambas as forças. E, antes de sermos homem ou mulher, somos espírito. Então, o argumento da polaridade (masculino e feminino/ negativa e positiva) no sentido de condenar a homossexualidade, a meu ver, não tem fundamento.

Muito se diz sobre a questão de os homossexuais não procriarem, o que seria antinatural, portanto, errado. Mas quem disse que os homossexuais não podem procriar? Ora, biologicamente, como casais, sim, não há como duas pessoas do mesmo sexo conceberem um filho, por razões, repito, biológicas. Mas ambos, homem e mulher, continuam a ter em seus corpos a capacidade biológica da procriação. Portanto, não concordo com o termo "aborto da natureza" (explicação do fundador da Wicca quanto aos homossexais), termo, aliás, que não tem sentido algum, visto que algo que é abortado é descartado, e os homossexuais existem e vivem normalmente, trabalham, pagam impostos, comem, dormem etc., correto? Este é mais um termo carregado de preconceito que alguém dito "dono de alguma verdade" disse em algum momento. Para se ter filhos, não precisamos estar casados, não é mesmo? E hoje temos avanços da Ciência a esse respeito, que possibilita a procriação sem relação sexual.

Pergunto: e quanto aos casais heterossexuais que não têm filhos por opção; ou homens e mulheres que, por alguma razão, são ou se tornam estéreis? Seriam eles também "abortos da natureza" por não procriarem? Pois isso não é difícil de se encontrar. Ora, se toda a celeuma se dá pelo fato de poder ou não poder procriar... questiono.

No campo religioso, padres e freiras são também "abortos da natureza"? Bem, o que dizer das milhares de cenas abomináveis de fetos mortos em porões de conventos e padres pedófilos? Não vou, neste momento, entrar nessa questão, só pensemos...

E quantos homossexuais, homens e mulheres, têm filhos? Vários. Porque a homossexulidade é movida a sentimento, não tem a ver apenas com o corpo. Não é incomum encontrar homens e mulheres que se casaram ou tiveram relacionamentos heterossexuais, tiveram filhos, mas apaixonaram-se por pessoas do mesmo sexo em algum momento da vida, descobrindo seus verdadeiros sentimentos. O que dizer dessas pessoas, em que "categoria" elas se encaixam? Me respondam, por favor.

Em quase todas as doutrinas religiosas, a homossexualidade é condenada pelo fato de "bloquear" a natureza, por não ser possível procriar. O papa Bento 16 anunciou esses dias que a Igreja Católica não aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo e que isso é uma ameaça à humanidade. Quanta intolerância esses líderes religiosos proclamam por meio de suas línguas venosas! Ameaça a quê? Somos mais de 7 bilhões de seres humanos, o planeta não está nem conseguindo sustentar tanta gente, e estamos ameaçados pelos gays? O que essas pessoas tentam é justificar o injustificável; querem tornar mentira a verdade. E, infelizmente, a grande massa prefere fechar os olhos e os ouvidos à realidade... Lembro-me de Jesus, quando disse: Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina (Marcos 7:15). Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem (Mateus 15:11). O que o Mestre Jesus nos expôs aqui é que não importa como você se alimenta, o que entra pela boca o próprio organismo vai eliminar depois. Mas o que sai da boca (as palavras, os sentimentos, o que vem do coração), isso sim contamina o homem. Ou seja, se você proclama ódios, espalhará ódios, contaminado a si mesmo e à sociedade ao seu redor. A palavra tem força, pois sai do coração.

Hoje vemos belíssimas histórias de casais homossexuais adotando crianças e formando suas famílias. Quantos bebês são abandonados pelas mães, todos os dias? Ah, claro, essas mães que jogam seus bebês nas lixeiras do mundo não são pecadoras, afinal, elas tiveram relação sexual com um homem e isso não é pecado. E os homens que engravidam mulheres e as forçam a fazer aborto? Tudo bem, o que importa é que eles não são gays... Os homossexuais viraram uma espécie de bode-expiatório planetário e daqui a pouco tudo será permitido, desde que não se seja homossexual... Vemos aí a chamada homofobia. Ela é perigosa. Estamos à beira da evolução, mas cercados ainda de muita involução.

O mundo precisa de amor; amor verdadeiro, e esse amor não tem cor, nem sexo, nem classe social... Que religiões são essas que pregam Deus com palavras tão agressivas, cheias de ódio, cheia de rancores? O que está errado então? Ninguém é obrigado a aceitar a homossexualidade, mas a verdade sim, todos temos que aceitar. Raciocinemos sobre a isso e pensemos sobre o que é respeito. E, não adianta, evolução é andar para a frente. Podem gritar, bater, xingar, mas o casamento entre pessoas do mesmo sexo já é uma realidade no mundo e vai se tornar cada vez mais. É a Natureza, e ela sempre se impõe mesmo quando há obstáculos. É questão de tempo. E o tempo? O tempo chegou.

Paz Profunda a todos!

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Wicca e Polaridade

Por Claudiney Prieto (trecho do livro “Wicca para Todos”, disponibilizado gratuitamente pelo autor em http://pt.calameo.com/read/0001432751a1dba130852)


Muito se discute sobre a presença de homossexuais na Wicca, em função das alegações de Gerald Gardner que dizia que a homossexualidade não tinha lugar na Arte.

Para chegarmos a uma conclusão pessoal sobre as afirmações de Gardner, temos que levar em consideração que ele era fruto de sua época. Na década de 40/50 a homossexualidade era considerada uma doença mental e crime, passível de prisão. A ligação de uma religião, tão mal vista como a Wicca, com a homossexualidade seguramente não seria bem aceita pela opinião pública. Logo, é natural que ele afirmasse que a homossexualidade não tinha lugar na Wicca não só porque era crime mas porque a própria Arte estava no seu processo de construção e busca da identidade.

O conceito das polaridades tem sido tema central para os muitos caminhos da Wicca desde aquela época e ele tem sido usado como uma explicação para tentar manter os Gays fora dos caminhos da Wicca. As afirmações mais vistas e lidas em livros sobre a Wicca geralmente afirmam frase como:

"Deusa e Deus, Feminino e Masculino, cuja interação cria o mundo, as estações e toda realidade manifesta.”

Onde os gays, e eu me incluo nesse grupo, se encaixam nisso tudo? Há uma conspiração em curso na Wicca para negar às minorias sexuais uma religião e Tradição Mistérica própria? É hora de reavaliarmos as afirmações sobre polaridade tão comuns nos livros de Wicca, pois isso tem limitado em muitos pontos a nossa experiência espiritual e nossa relação com os Deuses.

A primeira coisa que precisamos compreender é que apesar de se expressarem através de nós, a Deusa e o Deus não são seres humanos. Eles existem no reino do Espírito e são personificações das forças abstratas do Universo. Classificá-los apenas como masculino e feminino é limitá-los à nossa experiência humana e humanizá-los ao extremo. Deusa e Deus não são humanos, nem forças opostas. São elementos complementares de uma mesma coisa, extremos de uma mesma escala! Por que devemos nos limitar apenas a duas forças para explicar ou tentar entender a criação de energia e vida em nossa religião?

A teoria das polaridades fala basicamente da união dos opostos para criar energia seja ela mágica ou não. Esse pensamento simplista, utilizado por Gardner e muitos outros magistas para fundamentar suas teorias, poderia ser verdadeiro no século passado, mas atualmente é considerado ultrapassado de muitas maneiras. O conceito de energia baseado na polaridade masculina/feminina ou em pares de opostos é demasiadamente limitante e antigo. Nem mesmo a Ciência classifica as coisas mais dessa maneira.

Atualmente são consideradas 5 tipos de forças: a carga, a freqüência, a voltagem, a fase e a força composta. A carga é a atração de contrários no sentido do norte magnético ao sul magnético, e repulsão de energias semelhantes. A carga é o tipo de força mais usualmente possível de ser entendido em nossa cultura. Neste tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre diferenças da valência e da síntese.

A freqüência depende se a atração for do mesmo gênero ou gênero oposto, como a relação entre a mesma nota musical em diversas oitavas ou como as notas que são parte do mesmo acorde. Neste tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre intervalo e as semelhanças da proporção e ressonância, alto e baixo, harmonia e dissonância.

A voltagem surge das forças centrípetas e centrífugas em equilíbrio com a atração gravitacional. Aqui, o intercâmbio da energia se apóia sobre congruências do movimento para forçar o movimento, à direita, à esquerda, e a inércia.

Na fase, o intercâmbio da energia se apóia sobre o reforço e interferência. Ela traz as formas de onda conjuntas de modo que a onda alcance picos para aumentar a amplitude ou de modo que os picos se emparelhem o para alcançar o equilíbrio zero no caso da atração oposta.

A quinta força é uma síntese ou um composto dos quatro tipos mencionados, a Força Composta que consiste na combinação da carga e da voltagem Todas essas formas de força podem ser geradas pela sinergia. A sinergia é junção harmônica de forças iguais que quando unidas se tornam mais fortes do que qualquer uma dessas forças sozinhas, que em conjunto aumenta seu potencial de ação para gerar energia.

Gays quando trabalham magia podem não usar a estrutura das polaridades para gerar energia, mas indiscutivelmente podem se valer da sinergia para isso. Assim, sua forma de fazer magia é tão efetiva quanto qualquer outra que use os pares de opostos. Assim, dizer que gays não podem praticar a Arte porque não podem criar energia para ser canalizada para um objetivo específico porque não se relacionam sexualmente com pessoas do sexo oposto é um ato de ignorância extrema.

Temos que pensar além do gênero para ampliar nossa visão sobre o tema. Masculino e feminino é apenas uma entre as muitas formas de polaridades que incluem, mas não se limitam a:

Ativo / Passivo
 Quente / Frio
 Positivo/Negativo
 Claro/ Escuro
 Dia / Noite
 Bem / Mal
 Envio / Recepção
 Guerra/ Paz
 Sol/ Lua

Cada um desses pares de opostos está além de ser masculino ou feminino e vive e atua tanto em homens quanto em mulheres. Desta forma, masculino ou feminino não estão diretamente ligados a um padrão ou outro de energia. Encontramos Deuses lunares e Deusas solares, Deusas da guerra e Deuses da paz. A oposição energética não está no gênero, mas no padrão e/ou comportamento que cada indivíduo assume ao lidar com uma energia ou outra.

Gardner algumas vezes afirmou que gays eram uma abominação, um aborto da natureza e que não poderiam praticar Wicca porque a união de duas pessoas do mesmo sexo não gera vida. O quanto essa afirmação se encaixa no mundo atual?

Insiste-se em um equilíbrio de Masculino/Feminino para gerar energia e dar vida aos rituais, enquanto a maioria das pessoas segue usando preservativos, anticoncepcionais e diafragmas em suas práticas mágicas. Que vida está sendo gerada com essa atitude?

Isso nos leva a uma importante observação: Ignora-se totalmente que algumas pessoas são inférteis por razões fisiológicas! Assim, a união do masculino e feminino não gera necessariamente a vida! Pessoas inférteis, por mais que sejam heterossexuais, não podem gerar vida através de suas relações sexuais.

Temos aqui 2 questionamentos cruciais:

1. Se gays são excluídos de alguns grupos por não gerarem vida através de suas relações sexuais, assim também deveriam ser os heterossexuais que são incapazes de gerar vida por problemas fisiológicos?

2. Um gay fértil que não se une sexualmente com o sexo oposto deve ser aceito em grupo porque não é infértil, enquanto o heterossexual com problemas fisiológicos deve ser excluído por sua infertilidade? Fecundidade é o que a maioria das visões pagãs deseja enfatizar, mas EXISTEM
outras realidades. É tempo de examinarmos um novo paradigma para nossa religião.

Há fecundidade da inspiração. Há também fecundidade para achar soluções. A fecundidade fisiológica existe da mesma forma, mas ela não é a única. A fecundidade não conhece limites. Há fecundidade em todos os seres e ela se chama criatividade!

Será por isso que os gays estiveram em sua maioria sempre criando arte de uma ou outra maneira? Seria isso a capacidade de transformar a fecundidade, uma vez fisiológica, em criativa? Vale a pena levar tudo isso em consideração quando se considera o que Gardner disse como o Canon da Wicca. Como todos ele era um homem falho, limitado aos pensamentos, comportamentos, valores e conhecimentos científicos disponíveis em sua época. Uma religião deve estar em constante evolução, se adaptando e sendo renovada à cada descoberta e avanço da sociedade.


Sobre o autor:

Claudiney Prieto é pioneiro da Wicca no Brasil e um dos autores mais respeitados e conhecidos da atualidade! Com diversos livros publicados sobre Wicca e Paganismo, há mais de 15 anos o autor tem sido presença constante na mídia para esclarecer sobre as práticas e fundamentos da Antiga Religião. Suas obras se tornaram populares entre os Pagãos de diversas linhas e têm auxiliado a comunidade Pagã brasileira e latino-americana a conhecer e se aprofundar na prática e filosofia da Religião Wicca. Claudiney renova seus pensamentos a cada página que escreve, transmitindo com magnificência o conhecimento dos diferentes temas que compõem os exercícios de autotransformação e aprendizagem aos praticantes da Wicca. Acesse o site oficial do escritor: http://www.wiccanaweb.com.br

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Preconceito – O Flagelo Anti-Cristo

A reprodução deste material foi uma sugestão de nosso amigo e colaborador João Henrique Lara Ganança, de São Paulo. É um texto de origem espírita muito interessante de se ler, já que o médium que o recebeu é gay assumido. Aliás, já conhecia o site “Salto Quântico” (ligado ao Instituto Salto Quântico, Escola de Pensamento Espiritual-Cristã), de responsabilidade do médium de Sergipe, Benjamin Teixeira, e pretendia dar notícia do ótimo material inclusivo ali existente. Graças ao amigo João Henrique, não o esqueci.

João Henrique: Importante mensagem de Eugênia, psicografada por Benjamin Teixeira, acerca do preconceito como o verdadeiro anticristo de todos os tempos. Leiam, reflitam e divulguem, pois acho que vale muitíssimo a pena. Boa tarde!

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Preconceito – O Flagelo Anti-Cristo

Benjamin Teixeira, pelo espírito Eugênia.

Fonte: http://www.saltoquantico.com.br/2006/12/29/preconceito-%E2%80%93-o-flagelo-anti-cristo

 O Apocalipse, o profundo, sibilino e quase ininteligível livro da Bíblia, que encerra a coletânea basilar sagrada da cristandade, alude ao “anti-Cristo” como uma figura personificada; entretanto, numa perspectiva simbólica, numa leitura mais adequada para a complexidade e profundidade do texto reputado a João Evangelista, pode representar mais um estado de consciência ou um padrão de comportamento que propriamente uma pessoa de fato.

Em passado recente, mulheres que se perfumavam e se maquiavam, bem como usavam roupas alegres e tinham conduta expansiva, eram imediatamente taxadas de mulheres de vida vulgar, niveladas a prostitutas e cortesãs. Por aquele tempo era ainda comum deixarem-se mulheres analfabetas, sob pretexto de que seria propiciar confidências com amantes, à distância, por cartas de amor, o saberem ler e escrever. E não raras desceram a óbito desnecessariamente, por ser considerado impudico serem examinadas por médicos homens. Porque, é claro, mulheres não tinham acesso ao meio acadêmico, contando-se nos dedos das mãos as figuras femininas que ostentaram o título de médicas antes do século XIX.

Há pouco mais de oito decênios, nenhuma nação da Terra, por mais civilizada, oferecia direito a voto aos componentes do sexo feminino da espécie, e é bem recente a idéia generalizada de que homens e mulheres têm o mesmo valor como ser humano, embora salários sejam desnivelados entre os dois gêneros, até a data presente, em praticamente toda parte, além de oportunidades de trabalho e ascensão social e política.

Cinqüenta anos atrás, aproximadamente, mulheres decididas e profissionais de sucesso eram observadas como portadoras de distúrbios psicológicos e sexuais, assim como homossexuais, ainda agora, em expressivas fatias das sociedades humanas, são vistos como elementos perturbados e perturbadores do tecido social.

Há quatro décadas, nos Estados Unidos da América, a mais poderosa nação do planeta, negros eram formalmente considerados cidadãos de segunda categoria, segregados em medonhos sistemas de discriminação social. Até a segunda metade do século XIX, na pátria de Washington, bem como no Brasil, os afro-descendentes eram reduzidos a alimárias comuns, vendidos em mercados de escravos, como matéria de consumo e de uso pessoal ou comercial.

Até os anos 80 do século transato, aproximadamente, em quase todo o território brasileiro (excetuando-se as metrópoles maiores), era tido como artigo de decência e nobreza feminina, praticamente obrigatório, o casar-se virgem, o que, atualmente, representa uma condição vista como imatura e mesmo irresponsável, já que implica estabelecer-se compromisso público e grave de enlace existencial com alguém para a intimidade conjugal, sem se conhecer a pessoa – absurdo dos absurdos – na sua própria intimidade!

E que dizer da sombra “moral” que sobrepairava ao divórcio, que só surgiu como possibilidade legal na pátria brasileira em 1977? “Desquitadas”, como eram chamadas as separadas antes da “era do divórcio”, eram niveladas quase a “mulheres de programa”, e mesmo os “desquitados” eram repudiados pelas “moças de família”, para não trazer o estigma da marginalidade social para o clã a que pertenciam. Como pode haver a idéia de um contrato sem distrato? O que é extremamente óbvio e considerado completamente normal nos dias atuais (até demais: os excessos no âmbito das separações por nada e por tudo bem revelam isto) era quase um fantasma inaceitável para qualquer personalidade ou grupo que se prezassem.

No Brasil, nordestinos são considerados quase uma sub-raça no sudeste e no sul do país, ao passo que os próprios sulistas e “sudestinos”, apesar do desdém com que muitos olham para seus irmãos do norte, são tidos, na Europa nórdica e nos EUA, como seres humanos inferiores, por serem latinos e sul-americanos.

Recentemente, homossexuais eram avaliados à conta de criminosos. No século XIX, somente as legislações da França, Itália e Brasil não cominavam como ilegais práticas gays. Freud conseguiu descriminalizar, com argumentos acadêmicos, as condutas sexuais de pessoas homo-eróticas, dizendo-as “pervertidas” da libido e não do caráter, sugerindo-lhes tratamento e não cadeia. E somente em 1973, a “Associação Psiquiátrica Americana” chegou à conclusão científica de que a homossexualidade não constitui distúrbio de nenhuma natureza, nem mesmo emocional, quanto mais mental ou moral. Até hoje, todavia, homossexuais são quase que apenas tolerados em ambientes cultos e rechaçados entre pessoas ignorantes dos países mais avançados do orbe, condenados, inclusive por religiosos de todos os gêneros, como aberrações da natureza e da espiritualidade, já que a religião é o mais reacionário setor da cultura humana.

Do outro lado do globo, radicais do Islã sustentam despudoradamente a “jihad”(*), lançando-se contra a vida de inocentes de outros povos e ideologias religio-filosóficas diferentes, com a justificativa de os considerarem heréticos. Evangélicos e católicos radicais em nosso pacífico e dócil país, com a mesma falta de escrúpulo, publicamente atacam o caráter de gente decente e nobre, por pertencerem a partidos de crença diversos dos seus, sobremaneira o espírita. Em ambos os grupos, xiitas islâmicos e cristãos fundamentalistas brasileiros, o mesmo lastreamento blasfemo e sacrílego de buscarem trechos do Alcorão e da Bíblia, respectivamente, para pretextarem sua atitude mesquinha e injustificável.

A prostituta é discriminada por vender explicitamente o sexo por algum tempo. A “dama” da sociedade que se casa com um homem por sua posição financeira ou social é avaliada como digna e honesta. Só que esta última vende não só o sexo, mas seu útero, sua alma, seus sonhos, sua vida inteira, para trazer o sobrenome, a conta bancária e as influências do homem eleito como marido apto, para sua própria pessoa. Quem seria mais imoral? Jesus dá a resposta. Quando a adúltera é pega em flagrante traindo seu esposo, em pessoa vai defender a “pecadora” e diz sua famosa máxima: “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra”, após o que saem todos os circunstantes ao evento do quase apedrejamento, um a um, a começar dos mais velhos. E Jesus, por fim, “perdoa-a” e lhe sugere: “Vai e não peques mais”. Como o estudo etimológico da palavra “pecado” revela que seu significado é “errar o alvo”, podemos entender que o Cristo queria dizer, em verdade, algo como: “Você, que não faz sexo com o homem com quem foi casada pela decisão de seus pais e não do seu coração, e que resolve entregar seu corpo e sua alma apenas a quem ama, está agindo muito à frente do seu tempo, mas deve confrontar menos seus coevos, para que não seja punida por não ser compreendida, a ponto de perder a vida física”.

Jesus convivia com ladrões, prostitutas, adúlteros, doentes de todos os gêneros, inclusive os altamente estigmatizados hansenianos (leprosos), gente simples, pobre e ignorante; e acusava de hipócritas muitos dos homens mais prestigiados e admirados de seu tempo, a começar pela cúpula religiosa e política de Israel, sendo, para pasmo dos indignados “idealistas” de seu tempo, compreensivo e tolerante com o domínio imperialista de Roma, tão malvisto pelas classes cultas e pela elite política da Judéia. A questão é que Jesus preferia respeitar o pragmatismo declarado de Roma ao idealismo falso de Israel, assim como preferia a autenticidade de prostitutas e cobradores de impostos à dissimulação de pseudo-religiosos. De fato, o Império Romano, que respeitava cultura, idioma e religião de cada povo colonizado, estava muito à frente do primitivismo de seus dias, tendo uma função civilizatória sobre as nações dominadas reconhecida unanimemente por historiadores.

Allan Kardec, assessorado pelos espíritos superiores, por sua vez, defendeu a igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como a de indivíduos pertencentes a etnias diversas, o que causou verdadeiro frisson, para não dizer “escândalo”, entre seus contemporâneos, muitos contados entre componentes das camadas mais ilustradas da população fina de Paris, meca cultural do planeta por aqueles dias.

O que é ser cristão? O que é ser espírita? Para simplificar em um único paradigma, poderíamos dizer: É ser anti-preconceituoso em todos os sentidos; é amar não só o diferente, mas até o que nos ataca e nos faz mal, não no sentido de acolhê-lo na intimidade (o que nem Ele fez), mas de não desejar o mal e até fazer o bem, quando e quanto possível, ao irmão desorientado que nos assesta sua sanha agressiva.

O preconceito é o signo máximo do pensamento anticristão, antiespiritual, anti-humano. Discriminar alguém por ser pobre, doente, feio, velho, inculto, estúpido, obeso, deficiente físico ou mental, ou mesmo – desafio dos desafios – pervertido ou malevolente, constitui sempre um índice de inferioridade moral e dissonância com os ideais crísticos.

Podemos ser firmes, diretos e até severos (para proteger pessoas), sem, todavia, marginalizar quem não condiga com nossas melhores impressões do que seja bom e louvável. Claro que não devemos compactuar com o abuso e a tirania de nenhuma forma. Contudo, freqüentemente, teses indefensáveis se travestem de proteção a direitos constituídos, como no caso dos egrégios analistas sócio-econômicos do século XIX que, na América do Norte e do Sul, interpretavam como um desatino genocida a abolição do regime escravocrata de organização social, sob o argumento de que haveria um colapso das economias americanas, com a alforria em massa dos contingentes demográficos de cativos negros.

Atualmente, para dar um exemplo grosseiro da presença do preconceito nas relações humanas, gente estúpida ou ignorante é tratada aos empurrões, como se ser menos dotado de inteligência fosse culpa de alguém ou não ter tido acesso a boas oportunidades de educação idem. Não percebem os surtados desta ordem curiosa e particular (patética) de preconceito que exigir atos brilhantes de quem é menos provido de potenciais intelectivos é um dos maiores atestados de pouca inteligência – no mínimo emocional.

Além do universo das relações interpessoais, o “especismo”, conceito criado por pensador moderno, para designar “preconceito de espécie”, assim como o “racismo” e o “sexismo” indicam, respectivamente, a discriminação por raça e sexo, tem levado à devastação de ecossistemas e a maus tratos de animais, com risco de sobrevivência para a biosfera do planeta, como um todo (incluindo, obviamente, a própria humanidade), pelo pressuposto de superioridade e supremacia do ser humano sobre os demais seres vivos, com isto querendo dizer, em verdade, abuso e violação completa das outras espécies, em função de não só necessidades, mas também de caprichos de seres humanos nem sempre lúcidos, maduros e conscienciosos no uso dos recursos naturais à sua disposição.

O preconceito se revela em toda parte, bem mais do que imaginamos, por constituir, digamos, uma espécie de efeito colateral do funcionamento mental humano, que, para simplificar padrões e otimizar processamento de dados, cria certas matrizes paradigmáticas, esquemas condicionados de idéia e sentimento que mecanizam, abreviam e facilitam os trâmites do pensamento, que, entretanto, se tornam, em verdade, pressuposições teóricas de validade, a dizer por baixo, questionável. Assim, o “pré-conceito”, em seu estado puro, é invisível para quem lhe padece a influência, porque é como uma espécie de lentes de contato sobre os olhos da psique, que nunca são vistas diretamente, mas que filtram toda a percepção de mundo de um indivíduo. É por isto que até o meio científico apresenta inúmeras de suas manifestações. Cientistas revolucionários e celebérrimos foram perseguidos por idéias pré-concebidas de seus contemporâneos, até mesmo por correligionários de profissão, como Pasteur, Galileu (que quase foi sentenciado à pena capital), Graham Bell e Thomas Edison (no início de suas carreiras), para citar apenas alguns poucos casos. Lamentável e mesmo deplorável, porque, como já denunciamos neste parágrafo, uma “pré-concepção” é uma idéia apriorística, uma crença prévia a filtrar a realidade, o que de modo algum se coaduna com o ideal de isenção que rege a legítima pesquisa científica, que colima colher dados, retratar fatos e entender fenômenos, com a máxima fidedignidade possível, e não corroborar impressões íntimas dos observadores.

E o mais grave, dentro desta temática melindrosa e de implicações amplas e devastadoras: todo ser humano, na civilização terrena, porta expressões mais ou menos elaboradas destas fixações paradigmáticas, algumas com traços mesquinhos e malevolentes, sobremaneira quando apresentando inclinações ao fanatismo religioso, pela aura de verdade absoluta e de “inquestionabilidade” com que as pressuposições de ordem espiritual costumam ser revestidas, por líderes inescrupulosos e/ou pouco sábios.

Assim, Jesus foi morto por preconceito, mas os juízes de Joana d’Arc não se deram conta de que também estavam agindo preconceituosamente ao condená-la à fogueira, repetindo o gesto da elite judaica que levou o Messias à morte. Somente mais tarde, bem mais tarde, sob efeito de remorsos candentes, deram-se conta da barbaria e injustiça a que se confiaram. Sentiam-se homens santos, fazendo um bem à humanidade, ao executar Joana d’Arc, sem se precatarem da postura extremista e, por isto mesmo, injusta, que a “caça às bruxas” constituía. Hoje, muitas pessoas se inflamam e se dedicam a aviltar o nome alheio. Estariam, alegoricamente, matando os vanguardistas do seu tempo? Têm, é claro, seus motivos para se sentirem com razão, como os julgadores da grande “Pucela de Orleans”, a santa francesa que é heroína nacional até os dias de hoje. Teriam razão como os juízes e executores da santa guerreira Joana d’Arc?

Estaria você, amigo, matando alguém agora, aos poucos e sutilmente, em nome do bem e da moral? Onde está o Cristo que você crucifica? Acha que somente o Jesus histórico apregoado à cruz era o Cristo sendo crucificado? Mães martirizadas e artistas incompreendidos podem sê-l’O, como amigos desprezados e gente considerada de “má vida” – apenas por não compartilhar de seu código de ética e valores (sempre relativos a época, cultura e personalidade em foco, e não absolutos, como o emocional humano gosta de sentir suas premissas de verdade).

Os preconceitos continuam correndo soltos, e nós, do Plano Maior de Vida, podemos vislumbrar, com mais clareza, o que, do plano físico, soa obscuro e mesmo distorcido, com as piores racionalizações da falsa moral e da pseudo-fidelidade a causas nobres.

Chico Xavier foi perseguido por líderes do movimento espírita, em sua juventude, apupado como vaidoso e obsediado, quando publicou seus primeiros livros, por apresentarem um mundo espiritual incompreensível para os figurões espiritistas da época; Bill Gates foi visto como garoto lunático e visionário megalomaníaco, por asseverar que poria um computador em cada residência da América e do mundo; e Alfred Kinsey, o cientista pioneiro do estudo da sexualidade humana, que liberou milhões de almas de titânicas angústias do universo afetivo, foi publicamente vituperado, como pervertido e charlatão.

O que no presente é visto como indecente ou impudico e amanhã será tratado com enorme naturalidade, no espaço de cinqüenta ou cem anos? Há quem só tenha olhos para o hoje, como foram os medíocres de todos os tempos e culturas, sem lograr divisar além dos estreitos limites das convenções e pressupostos de verdade de sua época e educação.

Assim, Jesus continua a ser crucificado na pessoa de grandes profissionais incompreendidos, de almas nobres sacrificadas na forja do lar pelo amor aos seus entes queridos, na pessoa de religiosos vanguardistas, de líderes científicos e culturais revolucionários. São hoje atacados; amanhã, serão aclamados.

Claro que há a perversão que recebe a alcunha de vanguarda e a perfídia que é apresentada como sinonímia de avanço. Porém, de todo coração e de plena consciência, amigo, sobretudo quando você foi ferido em seus interesses ou expectativas pessoais, como poderá você se sentir suficientemente isento para distinguir uma de outra categoria, no caso que você julga apropriado à acusação? A acusação, intrinsecamente, é um ato já tão delicado, que merece, previamente, suspeição e critérios redobrados.

Nesta era, por sinal, de profundo respeito pela diferença e pelas minorias, de tolerância à pluralidade e multiplicidade de elementos culturais, como poderá você discernir moral profunda de moralismo superficial? Tem você altura psicológica, intelectual e, principalmente, moral e espiritual, para produzir introvisões suficientemente seguras que o respaldem no expender bravatas condenatórias? Será que o lastro que põe para seus vilipêndios não passa de pura artimanha do inconsciente para abolir rivais ou adversários de suas ilusões de estabilidade e confiança, num universo previamente conhecido e entendido como melhor? É por isto que Jesus disse: “Não julgueis, para não serdes julgado”. E ainda: “Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos”.

E você, companheiro, que distende seu indicador em riste, acusando alguém do que supõe um crime, tem os demais três dedos opositores ao polegar apontando para si mesmo, em função de crimes talvez muito maiores perpetrados por você próprio, enquanto aquele que você assinala como abjeto pode, muito bem, ser uma alma nobre, muito mais desenvolvida, acima de suas condições de compreensão, com quem você assume pesado débito, por tentar destruir o trabalho que não é dela, mas da Divina Providência, que a enviou ao mundo físico para semear progresso intelectual e transformação social e humana.

Fuja de toda postura discriminatória e intolerante. Viver em busca de culpados para os próprios problemas, confiar-se à paixão da perseguição a bodes expiatórios, permanecer magoado e sentindo-se vítima por atos ou omissões de outras pessoas são bem posturas íntimas e condutas típicas do preconceituoso em seu estado puro. Somente o amor e o espírito cordato de convívio pacífico com todos os tipos humanos constituem plenamente a moral cristã.

Cuidado com aqueles que ladram, como cães bravios, sustentando seus pontos de vista, à custa de achincalharem os valores alheios. Qualquer pessoa esclarecida e relativamente sensata logo flagra, em tais ervas daninhas da floresta humana, personalidades e caracteres perigosos de quem se deve evitar contato íntimo, e por quem apenas se deve orar, assim como fez o próprio Cristo, que pediu a Deus perdão por seus crucificadores, sem trocar uma única palavra com eles.

(Texto psicografado por Benjamin Teixeira, em 3 de abril de 2006. Revisão de Delano Mothé.)

(*) “Guerra santa”.

Para saber mais sobre o médium assumidamente gay Benjamin Teixeira, que casou-se com Wagner Mendes em 2009: http://www.saltoquantico.com.br/benjamin-aguiar e http://www.saltoquantico.com.br/2009/06/30/repercussao-do-casamento-duplo-de-benjamin-teixeira